Discurso de Posse

* Minhas senhoras, distintos convidados e meus Irmãos em todos os vossos graus e qualidades, a todos saúdo,

As minhas primeiras palavras serão naturalmente para agradecer:

A todos vós, pela honra que nos dão no compartilhar desta sessão que é testemunho da maturidade e do caminho correto trilhado pelo nosso Supremo Conselho.

Aos meus Irmãos S\G\I\G\, pela confiança que em mim depositaram ao elegerem-me S\G\C\.

Ao representante do Muito Respeitável Grão-Mestre da GLLP/GLRP, garante da regularidade e reconhecimento internacional da nossa Grande Loja, base de todos os corpos maçónicos regulares portugueses.

Aos dirigentes dos Corpos Rituais, aqui presentes, testemunho da harmonia reinante no seio da Maçonaria Portuguesa;

Às delegações presentes dos Supremos Conselhos de França, Espanha, Brasil, Paraguai, Nicarágua, Turquia, Suíça, Itália, Roménia, Alemanha, República Checa, Bulgária, Croácia, e Azerbaijão, lideradas, na sua grande maioria, pelos seus Soberanos Grandes Comendadores, designadamente, Henri LUSTMAN, Felipe LLANES, Jorge Luis de Andrade Lins, Jorge Goldenberg, Noel Moran, Hassan Erman, Jean- Claude CHATELAIN, Leo Taroni, Eberhard Desch, Jiri Matous e Peter Kalpaktchiev,

e a todos os Supremos Conselhos que, impedidos de se fazerem representar, se nos dirigiram por escrito.

Ao Past Soberano Grande Comendador José Carlos Nogueira, coluna viva do nosso Supremo Conselho, com quem tive a honra de trabalhar ao longo de um dos seus mandatos como Grande Secretário Geral e com quem muito aprendi, mormente no desenvolvimento dos princípios que norteiam o escocismo e demais ensinamentos de quem pelo seu profundo saber maçónico era sempre um prazer ouvi-lo.

Permita-se uma referência especial ao Past Soberano Grande Comendador de Espanha, Jesus Soriano Carrillo, pelo seu trabalho, exemplo e amizade para com o nosso Supremo Conselho e ao sacrifício que fez para estar aqui presente. Muito obrigado Jesus.

Do Soberano Grande Comendador Agostinho Garcia, é-me difícil traçar, rememorizar, o seu perfil maçónico, o seu caráter, o seu trabalho em prol da Maçonaria e deste Supremo Conselho.

Na verdade, viemos aqui, mais do que para assistir à posse do novo S\G\C\, homenagear e louvar o trabalho do nosso Past S\G\C\ Agostinho Garcia no engrandecimento deste Alto Grau.

E se hoje este Supremo Conselho tem o apogeu, o reconhecimento internacional que tem, a ele se deve, pois soube, com a sua humildade e grande saber, conduzir com toda a elevação o nosso Supremo Conselho.

De destacar pela sua importância a Conferência Mundial de Supremos Conselhos em 2015 e estar nos alicerces das duas prestigiadas estruturas de caracter internacional: A Confederação Europeia dos Supremos Conselhos e a Confederação Ibero Americana dos Supremos Conselhos.

Receber o Supremo Conselho neste estado, não é difícil. Difícil é dar-lhe continuidade.

Foi para mim uma honra trabalhar ao longo de 10 anos com o Agostinho.

E, como “soe dizer-se”, que nós os maçons estamos sempre à Ordem, direi: Agostinho continuas à Ordem deste Supremo Conselho, conto contigo.

* No início do seu primeiro mandato, o Past Soberano Grande Comendador, Querido Irmão Agostinho Garcia, questionava-se sobre a possibilidade de “o homem caminhar para o esplendor, buscar a luz que o ilumina por dentro e de fazer brilhar o escuro, ensinando caminhos, atingindo os que lhe estão próximos, a sociedade que o rodeia e o mundo”. E a esta reflexão, acrescentava um desafio: “Pode o homem cultivar o seu ser espiritual, apreender e cuidar da sua centelha divina, reflectindo, conhecendo, ganhando uma nova consciência, transcendente, espiritual?” (Sic).

Afinal, qual ou quais os caminhos que nos conduziram à Maçonaria e ao Escocismo? A atracção pelo misterioso, o gosto pela pompa dos títulos, o sonho de reinterpretar a vivência de maçons ilustres, consagrados pela História, ou a busca de respostas para angústias existenciais, consubstanciadas numa necessidade de aperfeiçoamento pessoal, algo difuso porque não claramente definido?

A amálgama de todas as vias que convergem no cadinho da personalidade que o maçon pretende desenvolver, burilando-a lentamente numa progressão só perceptível aos olhos da alma, tem como base a eterna angústia humana que conduz à descoberta do eu mais profundo, aquele que se oculta sob as vestes da racionalidade material e apenas se desvela por acção de Maat no Tribunal de Osiris.

É aí, no mais recôndito da alma do maçon que poderemos encontrar as respostas sugeridas pelo Querido Irmão Agostinho Garcia ao desafio optimista por si formulado, em maio de 2008, materializadas nos “ideais maçónicos de verdade, tolerância e nobreza de alma humana”.

Tal como então, a necessidade imperiosa de exercer a magistratura da influência, baseada na auctoritas, na autoridade moral, granjeada pelo exemplar exercício da trilogia pensamento, palavra, acção, é hoje um imperativo categórico da Maçonaria e do Escocismo.

Mais do que então, é hoje imperioso responder ao avanço do materialismo, o principal responsável pelo empobrecimento do pensamento e da cultura, com a afirmação de uma espiritualidade assente nos nossos valores fundacionais, certos de que quanto mais elevarmos as nossas consciências, mais livres nos tornaremos e mais eficazes seremos na nossa actuação no mundo profano.

Hoje não basta já caminhar para o nosso aperfeiçoamento pessoal, tornando-nos melhores cidadãos. Estar no Escocismo implica, hoje mais do que nunca, intervir na sociedade transferindo para ela os valores que “trabalhamos” nos Corpos Rituais.

Contra a ignorância, saibamos responder com a defesa de uma maior e melhor Educação e Formação, de modo a que progressivamente a demagogia seja desmascarada pela Transparência, o despotismo ceda à Democracia, a tirania espiritual dê lugar à Liberdade de Consciência e o egoísmo se transforme em Fraternidade.

Entendemos, assim, que uma intensa busca de Espiritualidade é uma tarefa com prioridade máxima neste início do século XXI, quando as desigualdades sociais, económicas e de acesso à cultura e à informação crescem exponencialmente, dando corpo a uma progressiva descrença na Justiça; quando os egoísmos nacionalistas regressam como nuvens negras de tempestades pretéritas, anunciadoras de catástrofes apocalípticas; quando algumas aplicações técnicas proporcionadas pelo avanço da ciência, perspectivam uma nova era de trans-humanismo sem ética, em que o homem-máquina poderá substituir-se ao homo sapiens; quando este hesita na aplicação das incipientes normas ambientais aprovadas em Paris e que podem inverter a marcha de autodestruição do planeta.

Quando os tambores da intolerância fazem ouvir os sons da guerra, importa que a Maçonaria prossiga na sua centenária prática de reflexão filosófica e ritualidade esotérica, mas sobretudo cabe-lhe a função de guia solar nas trevas de uma noite que se anuncia de Lua Nova, consciente de que à união da ciência e da técnica é imprescindível adicionar a espiritualidade sem a qual não será exequível qualquer solução para a enorme diversidade de problemas que o planeta enfrenta.

Que o Grande Arquitecto do Universo nos brinde com um raio da sua Luz, para que possamos trilhar os caminhos do futuro na busca de uma espiritualidade que seja farol para a Maçonaria Universal e para toda a Humanidade.

 

Manuel Alves de Almeida

Soberano Grande Comendador