Águia Bicéfala e o R∴E∴A∴A∴
Águia Bicéfala e o REAA
(Texto extraÌdo de "La Franc MaÁonnerie de Tradition" ñ Roger Garry)
Desde sempre que os Maçons Escoceses trabalharam sob a égide da Águia, Símbolo de S. João, patrono das Lojas Operativas, aquele que habitou a ilha de Patmos, o discípulo bem amado (para Dante, que insiste neste particular aspecto simbólico da águia na "Divina Comédia" (1), ela simboliza um Príncipe Espiritual Electivo, e mostra também todo o carácter transcendental do Santo Império).
Porém, é somente a partir do momento em que foi assumida pelos Altos Graus da Maçonaria Escocesa, que passou a constituir um enigma e como tal tem permanecido ao longo dos anos. A águia è sem dúvida um dos mais antigos símbolos místicos, inspirado na fauna decorativa tradicional. A iconografia existente è muito abundante e podemos referencia-la a partir de 6000 anos AC nas civilizações mais recuadas. Não è pois de estranhar que a encontremos em plena Suméria e entre os Egípcios, aparecendo como sendo o Símbolo de Horus e Osíris.
Entre a Terra onde habitam os homens e o Céu morada de deuses, existe o ar, um dos quatro elementos fundamentais. Este elemento é impalpável, imaterial, somente o seu sopro se revela. …no movimento que produz que pressentimos a sua existência, a percepção da sua revelação, a Aquila, fonte etimológica latina do nome da águia (enquanto para os gregos significava a Luz).
Só as aves se movem livremente nesse espaço, quais mensageiras dos próprios deuses, originando no imaginário do homem o mito de Prometeu, qual sonho perpétuo em possuir asas tal como a "Grande Águia do Apocalipse".
Voltamos a encontrar este mito em Dante, em Ganimedes arrebatado por Zeus, na Babilónia com a lenda de Etana cavalgando a águia.
O mito de Prometeu está· fortemente enraizado na natureza humana, quer se trate de o entendermos numa perspectiva nietcheniana, portanto trágica, ou de simples realização pessoal.
Como referem Jean Baylot e Tourniac num artigo publicado nos "Cahiers de Villard de Honécourt": "a simbologia da águia transitou da Suméria e Pérsia levada pelos assírios e hititas, local onde aparece pela primeira vez talhada em pedra sob a forma bicéfala. Tornar-se o emblema do Império de Constantinopla marcando assim a origem comum de Roma e Constantinopla".
Era pensando justamente no Império do Oriente e do Ocidente que Otão, sobrinho de Ricardo Coração de Leão, sec. XII, tomou para si este emblema.
Era no Império da Ásia e da Europa que pensava Ivan III da Rússia, quando adoptou a águia bicéfala como Símbolo distintivo do seu poder. Cada um à sua maneira procura provar deste modo uma continuidade imperial, bem como a sua essência sobrenatural.
Terá sido também este tipo de opções de carácter simbólico que levou a Maçonaria Escocesa dos Altos Graus a adoptar a Águia Bicéfala como seu distintivo.
A Grande Tradição que tem no hermetismo uma das suas referências básicas e na alquimia uma tentativa de a concretizar, transporta a emblemática águia desde os primórdios da Humanidade até ao mais profundo da simbólica maçónica: a partir do 18º Grau até ao 29º Grau com o seu aspecto clássico; a partir do 30º Grau já com a forma bicéfala.
Do mesmo modo também a sua característica bicolor, branca e negra ou castanho escuro e dourada, exprime a oposição marcante da dialéctica da vida, a oposição das partículas e síntese, ou mais exactamente a descoberta da união dos complementares em torno de um só eixo central.
No 33º Grau a Águia Bicéfala prende nas garras uma espada com a guarda direita apontando a origem da fonte de Luz, do Oriente para Ocidente, tornando-se o Símbolo do comando legítimo.
Possa a Maçonaria, se bem compreendido este símbolo, realizar em si a Unidade no seu Centro. O centro que na mitologia grega foi determinado pelo reencontro das duas águias enviadas por Júpiter das extremidades oriental e ocidental da terra, directa e precisamente ao lugar de Delfos onde foi erigido um "õnfalo" em forma de Y, precisamente o esquema da águia bicéfala.
Possa ainda também ser digna um dia de possuir as "Asas da Grande Águia do Apocalipse" e de voar até ao deserto, lá onde, como refere o profeta Isaías, "a terra árida rejubilar, a estepe ser· toda ela alegria e florir como a rosa".
A partir desse momento poder o Maçon como diz Fabre D'Olivet exercer um "governo liberal, indulgente, fecundo no interior, mas possante, irredutível e dominador no exterior, alargando o seu Império e dirigindo-o segundo leis justas e em equidade, modeladas segundo a ordem e a harmonia universais".
… a tudo isto que se refere o estandarte do Império ao qual se referia Dante na "Divina Comédia" e que è simbolizado justamente pela Águia Bicéfala do Cavaleiro Kadosh.
(1) "A Divina Comédia" foi a grande obra de Dante. Grandioso poema alegórico, filosófico e moral que resume a cultura cristã medieval. A sua estrutura reproduz as concepções cosmológicas e teológicas da Época.