XXI CONFERÊNCIA MUNDIAL DOS SUPREMOS CONSELHOS DO R.E.A.A.
O tema apresentado na Conferência:
Rito Escocês: Desafios, Oportunidades e Possíveis Soluções
Introdução
A História da Maçonaria tem-se caracterizado por um conjunto de ideais e princípios, nos quais a busca do conhecimento e a afirmação da fraternidade são uma constante. Deixaram já a sua marca nas Constituições de York que, segundo a tradição, terão sido adoptadas no ano de 926, em Assembleia convocada pelo Príncipe Edwin, filho do Rei Athelstan que a História regista como o unificador dos vários reinos ingleses e que a Crónica Anglo-Saxónica descreve como preferindo a diplomacia à guerra, embora nunca se furtando a esta quando a primeira não obtinha resultados.[1]
No Artigo nº 4, as Constituições de York são claras ao defenderem que os Irmãos devem ser fiéis uns com os outros e comunicar as descobertas que fizerem na arte e ajudar-se mutuamente uns aos outros; Acrescenta que não devem caluniar-se e se acontecer um irmão falhar nos seus deveres para com outro irmão ou qualquer pessoa, ou se tornar culpado de qualquer outra falha, todos devem ajudá-lo a reparar o erro e a corrigir-se para o futuro[2].
Os mesmos princípios podem ser encontrados nos Estatutos dos Canteiros de Bolonha de 1248[3], no Manuscrito Regius de 1390[4], nas Constituições dos Maçons de Estrasburgo de 1459[5] e nos Estatutos de Ratisbona de 1498[6], o que nos permite concluir que entre os maçons operativos do período medieval a partilha de conhecimento e a fraternidade eram princípios fundamentais que garantiam a coesão interna e a independência da corporação, fundamentais para o seu prestígio perante a comunidade.
Senhoras de um conhecimento que consideravam reservado apenas aos iniciados como aprendizes na corporação, a importância das corporações de pedreiros foi decaindo a partir do Renascimento quando uma maior erudição, de alguma forma, vulgarizou muitos dos conhecimentos de arquitectura que vinham desde o período clássico. Estão neste caso os De Architectura Libri Decem de Marco Vitrúvio[7].
A obra de Vitrúvio foi objecto de algumas cópias durante os séculos VIII e IX, garantindo conhecimentos de Geometria, Matemática, Astronomia, Música e Hidrologia que contribuíram para o apogeu do Renascimento Carolíngio. O seu conhecimento, contudo, permaneceria seriamente reservado, apenas tendo uma mais ampla divulgação nos finais do século XV, durante o Renascimento italiano.
Os desafios que, até então, se colocavam às corporações limitavam-se à defesa dos interesses dos seus membros, estruturados hierarquicamente, num quadro em que a grande maioria das obras de construção eram iniciativa da Igreja, o que, naturalmente também contribuía para o seu carácter profundamente religioso.
A corporação tornava-se um mundo fechado, onde tanto a assistência como a formação eram garantidas[8]. Sem, contudo, conseguir manter-se totalmente alheada das convulsões sociais e religiosas de inspiração milenarista que ao longo dos séculos XV e XVI agitaram a Europa central, contribuindo para que muitos dos estaleiros de obras catedralícias tivessem, durante anos, ficado desertos[9].
Período Iluminista
Mas a roda da História não parava e quer a revolução científica associada ao trabalho de Johannes Kepler, Galileu Galilei, Francis Bacon, Pierre Gassendi e Isaac Newton quer o avanço do pensamento filosófico racionalista com Descartes, Hobbes Spinoza, Leibniz e John Locke ameaçavam subverter toda a estrutura social, política e mental até então conhecida. E se a Maçonaria operativa não podia ficar indiferente a esta Revolução que hoje designamos como Iluminismo, o mundo da intelectualidade começou a interessar-se com especial cuidado por aquela gente a quem se devia a concepção e construção dos mais belos edifícios conhecidos. E a miscigenação cultural foi acontecendo.
Quando, em 2 de Setembro de 1666, um grande incêndio deflagrou em Londres destruindo grande parte da cidade medieval, não haviam, ainda, decorrido seis anos desde que um grupo de intelectuais se reunira pela primeira vez, para, sob o motto “Nullius in verba” constituir a Royal Society. Era a clara assumpção da dúvida metódica e, entre eles, distinguiam-se Robert Boyle, John Evelyn e John Locke. Seis anos mais tarde juntar-se-lhes-ia Isaac Newton.
Se os dois primeiros nunca franquearam os umbrais do Templo, é praticamente certo que Locke e Newton foram iniciados quando as confrarias de pedreiros não tinham mãos a medir para reconstruir a cidade, apesar de o projecto vitruviano do maçon Christopher Wren ter sido rejeitado.
A par dos desafios técnicos associados à realização da obra de reconstrução da cidade, certamente debatidos nas reuniões das várias lojas associadas aos canteiros da pedra (St. Paul Minster stoneyard Lodges), outros se colocavam aos maçons especulativos que cada vez mais se interessavam pelas corporações de pedreiros operativos, frequentando e sendo admitidos nas suas lojas.
Londres transformava-se num imenso estaleiro com as obras do Hospital de Chelsea, de Somerset Hall, do Palácio Real, do palácio Episcopal de Winchester, mas especialmente da catedral de S. Paulo, a mais grandiosa obra que a cidade já vira e que pretendia rivalizar com a grandiosidade de S. Pedro em Roma.
Mas, para além dos problemas inerentes à realização de obra tão gigantesca e da especulação filosófica inerente a homens cultos influenciados pelo pensamento iluminista dos empiristas britânicos como Francis Bacon, Thomas Hobbes, John Locke e David Hume, entre outros, à Maçonaria impunha-se a resolução de um problema que, sendo político, permanecia como uma latente e permanente ameaça à paz na sociedade britânica, a questão da intolerância religiosa associada à luta entre dois modelos de definição política do poder.
A luta entre católicos, defensores de um modelo político de monarquia absoluta de direito divino, e protestantes, genericamente apoiantes de um modelo constitucional parlamentar, continuava a ser o grande pomo da discórdia, que havia já provocado uma brutal guerra civil e levado ao cadafalso o rei Carlos I.
A defesa da Liberdade, nas suas mais amplas perspectivas, tornou-se o maior desafio da Maçonaria especulativa nascente. Liberdade de pensamento, liberdade de consciência, liberdade de expressão e liberdade de comércio associadas à defesa de um regime político parlamentar passaram a ser os grandes desafios da maçonaria inglesa, ainda que, mesmo após a criação da Grande Loja de Londres, em 1717, não se envolvesse institucionalmente em questões políticas.
Foram, no entanto, os ideais libertários de tolerância que inspiraram os apoiantes da Revolução Gloriosa que, em 1619, puseram, definitivamente, fim à monarquia de direito divino e permitiu a emancipação das múltiplas correntes religiosas minoritárias da sociedade britânica.
As Lojas maçónicas, ao contrário dos elitistas e aristocráticos clubes ingleses, abriam as suas portas aos membros da classe média burguesa, comerciantes, artesãos e militares de baixa patente.
As tensões sociais existentes na sociedade britânica esbatiam-se no interior da Loja, onde se cruzavam membros da aristocracia rural e os da burguesia que vivia do comércio e da finança, onde luteranos, calvinistas e anglicanos conviviam com papistas católicos, num ambiente de fraterna e sã convivência.
Estavam criadas as condições para que Andersen inscrevesse a tolerância religiosa nas suas Constituições e dela se fizesse uma das principais bandeiras da maçonaria especulativa. Princípio inadmissível para a Igreja Católica, incapaz de aceitar a fraterna convivência entre fiéis de distintas religiões, o que provocaria a publicação da primeira condenação pública da Maçonaria, através da Bula In eminenti apostolatus specula de Clemente XII, em 1738.
Tolerância e Liberdade. Eis os dois grandes desafios que, ainda hoje, se mantêm válidos.
Foram eles que, a partir de 27 de Dezembro de 1813, acabaram por reunir, numa única instituição, os maçons da Grande Loja de Londres e os da Grande Loja dos Antigos que naquela não haviam sido aceites, talvez por se tratar maioritariamente de imigrantes escoceses e irlandeses, de meio social mais humilde.
Ultrapassado o sobressalto provocado pela Revolução Francesa e com Napoleão confinado em Santa Helena, os desafios colocados à maçonaria britânica passavam a ficar enquadrados dentro da serena cumplicidade entre a Grande Loja de Inglaterra e a Coroa.
Diferente foi o processo da instalação da Maçonaria especulativa na Europa continental e os desafios colocados aos seus maçons, apesar de os principais impulsionadores do Iluminismo continental terem sofrido grande influência dos pensadores empiristas britânicos[10].
A manutenção férrea de uma monarquia de direito divino e a perseguição desencadeada pela coroa francesa aos huguenotes[11], fizeram com que a Maçonaria gaulesa, apesar de filha da britânica, seguisse um rumo distinto que a levou a apoiar os ímpetos revolucionários de 1789[12]. Nunca mais perderia o ímpeto revolucionário que a levara, já, a apoiar os maçons americanos na sua luta contra a coroa britânica e que culminara com a independência dos Estados Unidos da América, em 4 de Julho de 1776.
Espírito revolucionário que se disseminou ao longo dos impérios coloniais, cujas comunidades viam na Maçonaria o amparo ideológico que fortalecia a sua ânsia de independência em relação às metrópoles.
Não surpreende, assim, que a primeira independência colonial se registasse no Haiti, onde a economia dependia fundamentalmente do trabalho escravo, apesar de uma forte presença maçónica, intimamente ligada ao que viria a ser a criação, em 1801, do primeiro Supremo Conselho, em Charleston[13].
Período Liberal
À onda autonómica que percorreu toda a América Latina, a partir da independência do Paraguai em 1811 e que culminaria com a independência de Cuba em 1898, correspondeu, na Europa, ao desmanchar da teia urdida por Metternich na Conferência de Viena.
Nos dois processos, teve toda a Maçonaria[14] um papel fundamental, correspondendo aos seus desígnios de libertação dos povos, num caso do jugo colonial e noutro da tirania de monarcas ansiosos pela vingança contra a libertinagem revolucionária e jacobina.
Tratou-se de um processo em que o liberalismo e o nacionalismo desfraldaram as suas bandeiras, dando origem a monarquias constitucionais e à reunificação da Itália e da Alemanha. Processo lento que culminaria com a extinção dos impérios em território europeu em 1918.
Simultaneamente, também a luta contra os mais desprotegidos, aqueles a quem nem uma réstia de liberdade era concedida se tornou um dos objectivos da maçonaria, sobretudo pela acção directa de muitos maçons influentes na sociedade.
Entre eles destaca-se. de imediato, o papel proeminente de August Frederick, Duque de Sussex, filho de Jorge III e Grão-Mestre da Grande Loja Unida de Inglaterra de 1813 a 1843[15]. Em 1806 tornou-se um forte apoiante do Projecto de Lei de Restrição à Importação de Escravos e, nas décadas seguintes, um forte apoiante dos pontos de vista anti-esclavagistas.
Outro maçon ligado à Casa Real e que desempenhou um relevante papel na luta contra a escravatura foi William Frederick, Duque de Gloucester, bisneto de Jorge II e sobrinho e genro de Jorge III.
O espaço do Freemasons’ Hall tornou-se um dos locais onde frequentemente se realizavam reuniões patrocinadas por organizações anti-esclavagistas, nas décadas que se seguiram à abolição.
Não faltam mesmo referências ao envolvimento de Lojas nesta campanha, como sucedeu em Kent onde algumas Lojas se preocuparam em saber da legitimidade para contribuir para os custos de financiamento de um projecto de lei anti-esclavagista, mas também com a Loja de Gravesend cuja mudança de nome para “Lodge of Freedom” pode ter sido influenciada pela publicidade dada à campanha abolicionista.
Também, no outro lado do Atlântico, a luta anti-esclavagista despertou o interesse, ainda que, por vezes tardio, de algumas individualidades como sucedeu com Benjamin Franklin que, na fase mais tardia da vida assumiu um vigoroso compromisso anti-esclavagista[16].
A luta contra a escravatura não foi um processo bonito e nem sempre encontrou todos os maçons no lado certo da barricada. A Society for Effecting the Abolition of the Slave Trade, surgida em 1833, não teve um início de vida fácil, pois colocava em causa um dos comércios mais rendáveis da época, o tráfico negreiro. Cite-se, como exemplo, a Loja Merchants de Liverpool onde alguns membros, como Thomas Golightly, eram proprietários e investidores no comércio negreiro, enquanto outros apoiavam o parlamentar abolicionista da cidade, William Roscoe[17], à semelhança do que sucedeu nos Estados Unidos da América onde o problema da escravatura colocou maçons americanos em campos opostos durante a sangrenta Guerra da Secessão, entre 1861 e 1865.
Mas como as lojas maçónicas estavam impedidas, pelas suas constituições, de manter ou participar em controvérsias políticas ou religiosas, as fontes maçónicas contribuem relativamente pouco para o nosso conhecimento sobre as batalhas políticas que se travavam em torno da escravatura ou da organização política de campanhas a favor ou contra ela. O punhado de lojas maçónicas que, mais tarde, adoptariam o nome de Wilberforce[18] em sua homenagem estariam a forjar uma associação mental entre causas maçónicas e abolicionistas que não poderiam ter sido afirmadas numa época em que os debates sobre a escravatura e a abolição eram o assunto da política actual.
Certo é que, de uma forma geral, o objectivo de exterminar a escravatura se converteu num dos grandes desideratos da Maçonaria Mundial ao longo da segunda metade do século XIX e desse facto só podemos sentir um grande orgulho.
Ascensão dos extremismos
A derrota dos países do Eixo em 1918 e a humilhação dos vencidos no Tratado de Versalhes associadas à crise económica e financeira da Grande Depressão ditaram o fracasso da Sociedade das Nações e a ascensão crescente de movimentos que preconizavam governos autoritários e consideravam a Maçonaria como um inimigo a abater. Esta tendência tornar-se-ia dominante com o estalinismo na União Soviética, com a ascensão do fascismo na Itália e do nazismo na Alemanha, e com o franquismo em Espanha, países onde a maçonaria passou a ser criminalizada e ferozmente perseguida.
Na memória de muitos maçons persistem as recordações ouvidas aos que sofreram as perseguições e o extermínio dos campos de concentração, memórias que os maçons espanhóis recordam através do motto franquista: “El Masón, al paredón.”
Ressurgimento
A derrota dos extremismos em 1945 encheu as ruas e os corações dos maçons da Esperança que cantamos especialmente no Grau 18., quando invectivamos:
- Ai daquele que deixar extinguir a chama da Esperança, lembramos.
Por todo o lado se manifestou a resposta aos desafios que, então se colocavam à humanidade, que mais não eram que os desafios que a Maçonaria se colocava a si própria.
O desafio da reconstrução da Europa, com a solidariedade materializada nos vários apoios do Plano Marshal, o restauro das democracias, a criação de uma instituição onde os pequenos conflitos pudessem ser resolvidos pelo diálogo e a definição de um corpus que garantisse os direitos essências do homem. Em todos esses momentos, a Maçonaria foi parte activa. Com destaque para a redacção da Declaração Universal dos Direitos do Homem, que plasma lapidarmente o conjunto de todos os princípios e valores do escocismo, em cujo texto se reflecte o pensamento dos maçons René Cassin e Henri Laugier, expresso no seu Preâmbulo: O reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo.
Nela se baseou o novo processo de libertação dos povos com as independências das colónias africanas e asiáticas. Nem sempre pacífica quando a maçonaria e o escocismo estiveram à margem do processo como sucedeu com a Maçonaria Francesa durante a guerra da Argélia e com a independência das colónias portuguesas, só possível após a reintrodução da democracia e o fim da perseguição à Maçonaria.
Conclusão
Com o fim da Guerra Fria houve quem julgasse termos atingido o fim da História,[19] talvez pensando que os pequenos conflitos regionais apenas serviriam para nos recordar que a perfeição absoluta é um ideal nunca plenamente alcançável. Mas a globalização crescente com o fomento dos contactos pacíficos entre os povos, o crescimento económico dos países menos desenvolvidos e a massificação dos produtos num mercado cada vez mais global, acabaram por criar novos problemas que hoje se colocam também à Maçonaria.
À frente de todos eles, surge a questão da crise ecológica em resultado das alterações climáticas provocadas e ou ampliadas pelo modelo de crescimento económico que temos vindo a adoptar.
As questões levantadas por este problema mereceram a reflexão dos Supremos Conselhos presentes na XVIII Conferência Mundial, realizada em Lisboa, em 2015.
Aí afirmava, então, o Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho para Portugal, P Irmão Agostinho Garcia, 33º, que se “impõe uma reflexão sobre o ambiente e sobre a exploração irresponsável de recursos finitos de modo a garantirmos aos vindouros e às outras espécies um planeta habitável”.
Como muitas vezes é referido pelas Nações Unidas, o tempo em que vivemos é a Idade do Desenvolvimento Sustentável. Uma idade que teve um momento inicial em Setembro de 2015, quando em Nova York foi aprovada a Agenda 2030 pelos 193 Estados representados na Assembleia Geral da ONU. Compromisso que seria renovado, três meses depois em Paris, quando os mesmos Estados se comprometem com o Acordo de Paris sobre as Alterações Climáticas, onde ficaram estabelecidos os princípios que devem ser seguidos para inverter, ou conter o Aquecimento Global do Planeta até 2 º C, até 2050.
Todos sabemos como as boas intenções manifestadas em Paris, e reforçadas em 2021 em Glasgow, pouco reflexo tiveram no mundo real, o que nos coloca um desafio existencial, quase esquecido perante a tragédia das guerras que devastam a Europa Oriental e o Médio Oriente.
A insanidade mental que varreu o mundo dos anos trinta e quarenta do século XX e julgáramos definitivamente enterrada, subitamente passou a entrar-nos porta adentro, num ritual de violência que não aceitamos, mas, na prática, nos deixa apáticos.
No entanto, já em 2015, Agostinho Garcia acrescentava pressentido a gravidade que alguns factos viriam a assumir nos anos seguintes: “Nestes tempos algo conturbados, em que o descontentamento dos povos parece roçar já os limites da revolta – mais ou menos patente - é missão dos Obreiros Escoceses, enquanto iniciados nos mistérios da condição humana, um papel preponderante na tarefa de lhes devolver a esperança.” [20].
Esperança que parece faltar à avalanche de imigrantes que, impossibilitados de aceder a uma vida com um mínimo de dignidade, se apresentam nas fronteiras do mundo desenvolvido, contribuindo para o acentuar do medo do diferente, potenciador dos populismos que ameaçam fazer-nos retroceder a tempos negros que julgávamos esquecidos.
Esperança perante os novos desafios como os colocados pelo desenvolvimento da Inteligência artificial e que as questões associadas ao transhumanismo, já abordado na Conferência Mundial de Assunção, faziam pressentir.
Estamos, pois, confrontados com um conjunto de desafios a que, como escocistas temos de responder. E sendo um desafio, é simultaneamente uma oportunidade para nos desembaraçarmos da indiferença a que, talvez tenhamos sucumbido.
Indiferença quando julgávamos não existirem mais batalhas a serem vencidas. Indiferença resultante da acomodação à rotina dos dias, quando as grandes causas a vencer se resumem a encontros sociais.
Estaremos nós, meus Irmãos, no lugar dos mornos que o Livro da Revelação afirma serem vomitados da boca do Senhor[21]?
Temos, porém, o poder nas nossas mãos. O poder de afirmar alto os nossos valores, fazendo alinhar os nossos princípios históricos com os objectivos da ciência aberta e do desenvolvimento sustentável. Estabelecendo um compromisso com a educação e a divulgação do conhecimento, o mais poderoso catalisador para a adopção ética das tecnologias emergentes que, com a inteligência artificial e o blockchain, podem oferecer oportunidades únicas de promoção de sustentabilidade e paz global, numa estrutura de ciência aberta, alinhadas com os valores maçónicos da igualdade, fraternidade e busca do conhecimento.
Ousemos.
Bucareste, Maio de 2025
António Maria Balcão Vicente, 33º
Grande Secretário Geral do Sacro Império
[1].- The Anglo-Saxon Chronicle, Online Medieval and Classical Library Release #17, http://mcllibrary.org/Anglo/, consultada em 9/04/2025.
[2] - Antiguos documentos de la masonería: los antiguos deberes, https://cibeles.org/documentos-antiguos/, consultado em 09/04/2025.
[3] - Statuta et Ordinamenta Societatis Magistrorum Tapia et Lignamiis. https://www.freemasonryresearchforumqsa.com/carta-di-bologna.php, consultado em 14/04/2025.
[4] - https://www.gpsdf.org/documents/Regius%20Halliwell%20Manuscript.pdf consultado em 14/04/2025.
[5] - http://www.freemasons-freemasonry.com/strasb.html consultado em 14/04/2025.
[6] - https://gle.org/estatutos-de-ratisbona-1498/ consultado em 14/04/2025
[7] - https://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Vitruvius/home.html consultado em 14/04/2025. consultado em 14/04/2025
[8] - A este propósito, atente-se no artigo nº 44 dos Estatutos de Ratisbona: “Nenhum Mestre ou Companheiro que não pertença à corporação deve receber o menor tipo de ensinamento.”
[9] - Norman Cohn, The Pursuit of the Millennium: Revolutionary Millenarians And Mystical Anarchists Of The Middle Ages, London: Vintage Publishing, 1993.
[10] - Montesquieu foi um claro discípulo das ideias de John Locke e Jean Jacques Rousseau, perseguido pela coroa francesa, em 1765 refugiou-se em Inglaterra a convite de David Hume. Também Voltaire se refugiou em Inglaterra, onde tomou contacto com as ideias de John Locke, passando a defender os princípios da tolerância religiosa e de uma monarquia constitucional. Nas “Cartas Inglesas ou Cartas Filosóficas”, publicadas em 1734, Voltaire comparava o atrasado absolutismo francês com a liberdade inglesa. Curiosamente, nenhum deles viveu tempo bastante para assistir ao eclodir da Revolução Francesa para poder avaliar os efeitos práticos das sua ideias.
[11] - Entre os principais episódios de perseguição religiosa salienta-se o massacre da noite de S. Bartolomeu, em 1572, durante a qual foram assassinados vários milhares de protestantes franceses e a publicação do Édito de Fontainebleau de Luís XIV, em 1685, anulava todos os direitos que o pacificador Édito Nantes lhes havia concedido em 1598.
[12] - O dia 14 de Julho de 1789 ficará para a História como a data fundadora da Revolução francesa, associado à tomada da Bastilha, símbolo da opressão régia.
[13] - Jean-Baptiste Marie de La Hogue, um dos responsáveis pela criação do Supremo Conselho em Charleston surge registado como Grande Inspector Geral da Ordem de Príncipe do Real Segredo das Antilhas Francesas, https://gw.geneanet.org/samlap?lang=pt&n=de+la+hogue&p=jean+baptiste+marie e o seu genro Alexandre François Auguste, Conde de Grasse, Marquês de Tilly, acompanha-o, em 1793, na sua fuga para Charleston, após a revolta dos escravos no Haiti.
[14] - Se a Maçonaria britânica via, naturalmente, com simpatia o surgimento de monarquias constitucionais na Europa, tinha nas independências da América Latina um especial interesse, porquanto os mercados coloniais eram de importância fundamental para a sua economia.
[15] - Foi sob o seu patrocínio que se estabeleceu em Portugal a primeira Grande Loja com a designação de Grande Oriente Lusitano, em 1802.
[16] - Geoffrey Cubitt, Squaring the Triangle: Freemasonry and Anti-Slavery, University of York.
https://archives.history.ac.uk/1807commemorated/exhibitions/museums/squaring.html consultado em 15-04-2025.
[17] - https://archives.history.ac.uk/1807commemorated/exhibitions/museums/squaring.html consultado em 15-04-2025.
[18] - William Wilberforce destacou-se no movimento abolicionista, liderando uma campanha contra o tráfico de escravos no parlamento inglês que resultou, em 1807, na aprovação do Act for the Abolition of the Slave Trade.
[19] - Francis Fukuyama, The End of History and the Last Man, 1992.
[20] - Proceedings XVIIIth World Conference of the Supreme Councils 33º, Lisbon, May 13 - 17, 2015, p. 110.
[21] - “Assim, porque és morno – e não és frio nem quente – vou vomitar-te da minha aboca”. Apocalipse, 3:16